Sistema de irrigação no Cerrado Mineiro reduz o consumo de água e minimiza os impactos da seca na produção de café arábica.
Fonte: Notícias Agrícolas
Com nova tecnologia de irrigação produtor consegue economizar 30% e mitigar impactos da seca dos últimos anos
Transcrição
Locutora Notícias Agrícolas:
Quem acompanha de perto o mercado de café sabe que as principais regiões produtoras do mundo nos últimos anos sentiram bastante os impactos climáticos. No Cerrado Mineiro o cenário não foi diferente e os produtores seguem buscando práticas para mitigar os impactos dessas mudanças.
Na nossa viagem ao Cerrado Mineiro nós visitamos também uma fazenda que instalou recentemente um novo sistema de irrigação e que trouxe bons resultados.
Ricardo Bartholo | Produtor e Proprietário da Fazenda Cinco Estrelas
Bom, eu diria para você que eu cheguei aqui em 88. Em 88 aqui tinha estações bem definidas com uma área de seca de aproximadamente três meses, começava em junho e até agosto e o frio era bem marcado, tinha uma área de frio, mas um frio moderado, não era um frio exagerado e a gente tinha uma estação de chuva que começava em setembro, começava as chuvas e até maio chovendo.
Hoje a situação meio que deu uma mudada interessante porque a quantidade de chuva continua chovendo a mesma quantidade que chovia antes, só que ela alargou o prazo de seca, então começou a secar em abril e só volta em outubro, então a estação seca aumentou e a quantidade de chuva caindo num período menor aumentou então as pancadas de chuvas, as chuvas caindo com mais volume do que caíam no passado, elas estão mais concentradas e de maior volume.
As duas situações não são boas para o meu negócio agricultura, meu negócio agricultura eu preciso de água constante, a planta não come nada, ela bebe, ela bebe soluções nutritivas que ela extrai do solo, então eu preciso que tenha essa umidade, essa água constante no solo durante o tempo inteiro, minha planta de café começou a sentir essa falta d'água extensa durante um tempo e ela faz isso abortando frutos, ela faz isso não produzindo pegamento na sua florada, porque ela tenta, como ela sabe que vai faltar nutriente para ela, ela tenta se manter viva abortando um pouco dos frutos que irão gerar novas gerações.
E a parte de temperatura começou a ter um aquecimento, esse aquecimento que muita gente diz que vem cíclico, eu peguei esse cíclico porque ele vem crescendo de temperatura, chegando a temperaturas extremas e o café quando atinge 35 graus mais ou menos, os estômatos da folha fecha, ela para de respirar, ela para de trabalhar, ela para de evaporar para ela se manter.
Como as temperaturas são constantemente elevadas, o café começa a não produzir aquela necessidade que ela tem de crescimento, de vegetação, de se vegetar e o café produz onde vegeta, então a gente tem uma dificuldade adicional.
No caso de cereais, a segunda safra nossa aqui na nossa região ficou bem prejudicada, porque com a seca chegando mais cedo, se você fizer uma lavoura de milho na segunda safra, você acaba tendo problemas de produtividade por falta d'água, de enchimento de grãos do milho na segunda safra. Então eu sinto na pele ao longo da evolução desses 35 anos que eu já estou aqui no Cerrado, de que o clima vem mudando em uma mudança para pior, cada vez jogando o produtor mais no risco do que no favorecimento da produção.
Locutora Notícias Agrícolas:
Essa nascente do córrego feio em patrocínio fica bem próximo da Fazenda Cinco Estrelas e ainda assim com uma fonte de água tão próximo, nos últimos anos a região de produção de arábica foi duramente afetada pelas condições climáticas.
Buscando por soluções, mitigação dos impactos e economia dos recursos hídricos, o Consórcio Cerrado das Águas instalou na fazenda de São Bartolo um novo sistema de irrigação, que além de levar tecnologia de ponta, reduziu o consumo de água em 30% no último ano.
Ricardo Bartholo | Produtor e Proprietário da Fazenda Cinco Estrelas
Ele chegou com uma tecnologia, na minha opinião, de ponta. Ela instala sensores de solo, as informações dos sensores de solo vão através de um chip de internet para a estação que está instalada lá na Suíça, a central de informação deles, e retorna para mim instantaneamente, praticamente a cada, sei lá, cinco minutos, dez minutos eu tenho informação do que está acontecendo no meu solo e com a estação meteorológica instalada eu sei velocidade de vento, temperatura e quantidade de chuva.
Então, o conjunto das informações que eles me geram, me dá uma noção clara do que é que está acontecendo e qual é a hora de eu irrigar meu café. O sensor de umidade do solo instalado próximo à raiz do café, ele que vai me dizer, olha, cheguei no meu limite, eu preciso de mais água. Aí a gente liga a irrigação e a irrigação vem completar ou repor a necessidade de água do café.
E a seca foi tão severa que acabou me prejudicando, inclusive, a irrigação das minhas áreas. Eu tive, inclusive, não consegui fazer o monitoramento de 100% da demanda que o próprio sistema me pedia. Eu tive que diminuir a aplicação de água.Volto a frisar que a nossa necessidade de água é tão premente que mesmo com a instalação da correção da redução da água, a minha autógine ficou prejudicada e eu tive que diminuir a necessidade mínima de água do meu café.
Hoje a necessidade de água é clara, é evidente e se todos conseguirem fazer uma redução dessa ordem de 30, 40, eu acho que até talvez 50% em alguns casos, a gente vai ter uma sustentabilidade maior na nossa atividade, em termos de continuidade do negócio, em termos de resultado.
Locutora Notícias Agrícolas:
Patrocínio é a maior cidade produtora de café arábica do mundo.
Boa parte da economia na região é proveniente dessa produção agrícola. Essa viagem ao Cerrado também contou com o apoio do SEBRAE, que junto com o Consórcio das Águas mostrou para todos os convidados os impactos positivos das ações que têm sido tomadas pelos produtores na região.
Marcos Geraldo Alves | Gerente Regional Sebrae Alto Parnaíba e Noroeste de Minas:
Primeiro, é fundamental falar do quanto a organização que o Consórcio representa, em especial, como ele consegue trazer uma visão estratégica unificada, em especial na busca de uma atuação focada no recurso hídrico inteligente, em uma agricultura resiliente e regenerativa, é tão importante para a gente conquistar aquilo que a gente almeja relacionado à agricultura sustentável e isso por si só já justifica a importância para o produtor.
A gente sabe do desafio que existe da produção agrícola relacionada ao clima, ao mercado e hoje, mais do que nunca, a sustentabilidade, sendo não um assunto diferencial, mas uma necessidade, uma expectativa global do atendimento dos produtores rurais brasileiros, ter uma base como Consórcio da sustentação necessária para que o meio ambiente ele possa ser preservado, a gente mais uma vez, a agricultura possa ser inteligente, resiliente e que o produtor, da mesma forma, ele possa ter uma atuação onde ele obtém o sucesso no negócio, o sucesso de sua empresa rural e que ele possa redistribuir isso também para a sociedade através do meio ambiente.
O Consórcio, nos últimos anos, ele se instala como um modelo de governança focado na sustentabilidade, primordial para tudo aquilo que a gente faz e são as melhores expectativas que temos relacionado aos próximos anos, onde, mais uma vez, em uma sociedade vinculada especialmente às grandes métricas das ESGs, da vanguarda que a sustentabilidade e os mercados globais exigem em relação à produção brasileira, que o nosso Consórcio, ele cria um horizonte, um futuro, que a gente tem uma expectativa muito positiva e nós, do SEBRAE, somos e seremos parceiros de iniciativas tão importantes que a gente está aqui exatamente para reconhecer a importância e a razão de ser do Consórcio Cerrado das Águas.
Juliano Tarabal | Federação dos Cafeicultores do Cerrado
A Federação dos Cafeicultores do Cerrado, ela é membro fundador do Consórcio Cerrado das Águas, desde o seu início, a gente participou da construção do propósito, da marca, da estratégia, porque naquele momento nós queríamos desenvolver uma estratégia para a questão da água na nossa região, da produção, da preservação, da conservação das águas, que é vital não só para a produção, como para o consumo humano também.
E aí veio muito a calhar a parceria com o Nespresso, que é uma grande torrefação, onde o Cerrado é o principal fornecedor para Nespresso no mundo. E a Nespresso, com essa visão estratégica que ela tem de cuidar dos recursos hídricos, nos ajudou a fazer o mapeamento inicial de qual área seria definida como projeto piloto. Foi definido o Córrego Feio em Patrocínio como projeto piloto. A Federação dos Cafeicultores do Cerrado era a secretária executiva do projeto naquele momento. E aí fomos, nessa construção, agregando novos parceiros, as tradings, outras cooperativas, Ongs e etc, para em 2019 a gente conseguir captar um recurso de um fundo internacional, um fundo pedido, que serviu para financiar a metodologia que foi testada na bacia do córrego feio no município de Patrocínio.
Essa metodologia já está testada e agora se encontra no momento de expansão, aqui para a Serra do Salito, para o Rio Paranaíba, para Coromandel. E o Consórcio Cerrado das Águas está no centro da estratégia de sustentabilidade da região do Cerrado Mineiro. Exatamente por ser uma plataforma multistakeholder, que envolve o produtor, a cooperativa, o trading, nós que somos uma entidade de representação e de controle da marca da região, então é vital uma estrutura, uma governança como Consórcio para a sustentabilidade da cafeteria da nossa região.
Então, a gente vê que o produtor é aberto às tecnologias e o Consórcio tem uma narrativa, um diálogo, na verdade, nem narrativa, porque narrativa é muito montado, mas o Consórcio tem um diálogo muito estruturado com o produtor, de levar as mudanças no tempo do produtor, não é nada feito em regime de pressão ou de obrigação.
O Consórcio monta um plano com cada produtor, uma estratégia com cada produtor, trazendo o conhecimento dos técnicos que o Consórcio possui, então cada produtor possui o seu plano, não é nada padronizado, engessado, e isso dá uma liberdade grande para o produtor, então acho que o sucesso do crescimento do Consórcio tem sido muito nessa flexibilidade do diálogo, na negociação do que vai ser feito para que a sociedade aumente a sua resiliência climática.
Locutora Notícias Agrícolas:
O Consórcio das Águas é uma plataforma colaborativa e que conta com o apoio de diversas empresas. Nessa viagem ao Cerrado, a gente também pôde conhecer alguma delas e saber o que eles estavam achando das ações promovidas pelo projeto.
Guilherme Amado | Líder em Sustentabilidade da Nespresso e Vice Presidente do Consórcio Cerrado das Águas:
Esse projeto, Consórcio Cerrado das Águas, começou de uma iniciativa e foi efetivamente o primeiro projeto que nós começamos aqui no Brasil, e eu falo que foi um momento muito importante, porque foi onde nós realmente realizamos que não adianta fazer um trabalho super bem feito nas nossas fazendas, que são nossas fornecedoras, sendo que a paisagem está toda degradada, então nós literalmente abrimos as porteiras das fazendas e aí até fazendo uma... chegamos à conclusão que não, nós não conseguimos mudar o mundo sozinhos, nós precisamos de parceiros, e aí abrindo as porteiras das fazendas nós começamos a efetivamente identificar os principais desafios e aqui no Cerrado Mineiro nós chegamos à conclusão que os principais desafios estavam relacionados a dois pontos: água e solos, e aí em 2014-15 nós tivemos um evento climático extremo, quem não lembra da crise hídrica, isso deixou as pessoas muito sensibilizadas a esse aspecto, e aí foi muito mais fácil fazer o nosso trabalho de engajamento dessas partes para a criação dessa plataforma multissetorial colaborativa, que nada mais é do que fazer todo mundo sentar na mesa e efetivamente falar, ó gente, nós precisamos trabalhar juntos para garantir a água, para garantir o solo, porque sem isso nós não temos café.
Eleno Paes Gonçalves Jr. | Conselheiro Fiscal do Consórcio Cerrado das Águas
Foi uma honra participar desses três dias, uma oportunidade de eu ver de perto um projeto que eu acompanho desde o seu início, então lá em 2018 eu auxiliei as organizações associadas a criarem o Consórcio, a criar o estatuto do Consórcio, a governança, e desde então eu acompanho à distância como conselheiro fiscal, e como conselheiro fiscal eu só via números, então hoje eu vi as ações de perto, hoje, ontem, o impacto real do Consórcio, das suas atividades, e mais do que o impacto do que a gente já fez, me deu muita confiança sobre o que é possível fazer e todo um trajeto que o Consórcio ainda tem aqui dentro da área do Cerrado Mineiro.
O próximo passo é a gente levar os resultados que já foram atingidos, os depoimentos dos produtores que participam, e a gente sabe que o impacto sobre a redução do consumo de água, a melhora da produtividade, a redução do impacto dos eventos extremos nas lavouras, mesmo a redução da temperatura nas lavouras, então a gente tem com certeza, a gente viu aqui, por exemplo, com as Três Meninas, o impacto não só ambiental como econômico dessas ações, então eu acredito que o próximo passo é a gente conseguir recursos apoiadores e conseguir mais produtores que se engajem no projeto, acredito que dentro dos próximos anos o Consórcio tende a crescer em termos de atuação, seja com mais fazendas aderindo ao programa e seja com mais visibilidade para a sociedade brasileira sobre o impacto dessa produção de água, ontem eu vi claramente que essas ações produzem água.
Michael Becker | Diretor Executivo Nature Invest
Não, achei realmente esses dias que eu pude estar com um Consórcio muito bons, a gente pôde ver as ações do Consórcio na prática, então a gente está aqui na Fazenda das Três Meninas e vendo exatamente o que significa para o produtor a colaboração com o Consórcio, isso é realmente muito bom, eu estou aqui como conselheiro também do Consórcio e participo realmente dessas discussões um pouco mais estratégicas e muitas vezes a gente percebe que a gente tem essas coisas escritas no papel e agora que a gente está aqui a gente consegue realmente perceber que temos aí as ideias sendo implementadas, então isso é muito gratificante para a gente do conselho e sem dúvida traz também um impacto positivo tanto para o produtor como para a natureza e acho que também esse é um dos grandes objetivos do Consórcio.
Eu acho que me surpreendi bastante com as reuniões que a gente teve ontem do conselho também e com os outros partícipes porque mostrou muito alinhamento, a gente estava realmente pensando muito de maneira positiva, muito igual, então os grupos sempre se separavam, seriam sempre pessoas diferentes, pessoas distintas em grupos distintos e mesmo assim surgiu sempre uma ideia muito consistente, uma ideia muito colaborativa, eu acho que isso me surpreendeu realmente de maneira muito positiva.
Então essa é a parte teórica da surpresa, a parte prática da surpresa, é que estando aqui realmente na fazenda e vendo as questões que estão sendo implementadas, isso também me surpreendeu, eu não estava pensando que estava tão avançado como a gente está vendo aqui e isso realmente é muito gratificante.
As expectativas é um pouco aquilo que eu coloquei até como uma pergunta, que os agricultores PBIC, que estamos aqui, que é um dos agricultores PBIC, que eles realmente aumentem em toda a região, porque aí a gente vai ter sem dúvida o impacto conjunto muito maior das ações que estão sendo implementadas pelo Consórcio, se cada vez tivermos mais agricultores implementando essas ações.
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