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Café orgânico tem alta produtividade e preço superior, em fazenda de MG

Atualizado: 11 de jul. de 2023

CAFÉ ORGÂNICO TEM ALTA PRODUTIVIDADE E PREÇO SUPERIOR, EM FAZENDA DE MG Em Monte Carmelo, no Cerrado Mineiro, a Fazenda Três Meninas apostou na agroecologia e na agricultura regenerativa, agregando valor ao café. · ELIANE SILVA · DE RIBEIRÃO PRETO (SP) Marcelo Urtado decidiu cursar agronomia na Unesp de Bauru para trabalhar na fazenda de café do pai. Mas mudou de rumo em 2016, ao comprar a própria fazenda, em Monte Carmelo, no Cerrado Mineiro, para produzir café em gestão compartilhada com a mulher, Paula, de forma equilibrada, resiliente, sem uso de produtos químicos, dando condições à natureza para gerar o chamado “café carbono neutro”. Renomeada como Três Meninas, em homenagem às três mulheres da vida de Urtado (a mulher e as duas filhas, Malu e Fernanda, de 12 anos e 8 anos) a fazenda tem 54 hectares, 40 de cafezais. A produção pioneira no sistema regenerativo e orgânico tem um rendimento médio de campo de cerca de 54 sacas por hectare ante uma produtividade média brasileira de café de 30,6 sacas por hectare. “A fazenda que compramos estava na UTI, precisando de quimioterapia. Pensamos em arrancar tudo, mas decidimos investir para recuperar a plantação de café e transformar o modo de produção. A transição demandou cinco anos, com o uso de plantas de cobertura e de químicos associados a produtos biológicos. A cada ano, fomos reduzindo os químicos. Dessa forma, mudamos o ecossistema, criando um meio conservativo e dependendo menos de insumos externos”, explica. O custo de produção cresceu 20% nesse período de transição, mas a partir daí, o casal passou a economizar com os fertilizantes. Na última safra, a economia foi de 47%. O cafeicultor, engenheiro agrônomo – e também arborista certificado no município de São Paulo – paulista afirma que geralmente os produtores enxergam erroneamente tecnologia como sinônimo de moléculas de químicos para matar o que não é café, lutando contra a natureza. Para a mudança, ele usou os ensinamentos de agrofloresta da universidade e foi buscar informações sobre agricultura regenerativa na Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) e com especialistas, como a agroecologista Ana Maria Primavesi e o pesquisador Ademir Calegari. “Nós buscamos o equilíbrio na produção, com o plantio de plantas de cobertura pelo menos três vezes por ano, o que mantém o solo sempre coberto, melhora a biologia e serve como defesa contra inimigos do café. O plano não era ser uma produção orgânica, mas isso foi a consequência, um presente pelo trabalho bem feito. Mas em vez de orgânico, prefiro chamar a nossa produção de agricultura conservativa e climaticamente inteligente”, diz Urtado. O manejo orgânico, sem químicos e com certificação do Brasil Orgânico, não significa uma lavoura sem pragas. O nível é semelhante ao de uma fazenda que usa herbicidas químicos, mas o controle de danos garante a produtividade. Urtado faz questão de esclarecer que ser orgânico não significa produzir menos da metade do convencional. “Isso é preconceito. Mesmo nos anos de transição, produzimos bem e tivemos lucro.” Quando é necessário, Urtado usa produtos biológicos, como as iscas para controle das formigas corta-folhas. Além dessas inimigas, a fazenda tem muitas espécies de “formigas do bem”, incluindo as predadoras da broca-do-café, inseto que ataca o fruto e derruba a produtividade. As abelhas também inundam a propriedade. “Algumas vezes, o zumbido das abelhas até atrapalha a conversa”, diz ele. Na primavera-verão, o casal planta trigo mourisco, crotalária, nabo forrageiro, milheto e feijão guandu, entre outras. Tudo estudado de acordo com a necessidade do solo. No inverno, as culturas de cobertura mais usadas são aveia, crambe e nabo forrageiro. Urtado diz que essas plantas cultivadas até nos carreadores não agregam receita à fazenda, mas geram uma economia em fertilizantes e mantêm a produção estável. Mesmo na colheita, as plantas de cobertura não saem totalmente. “Cerca de 99% das fazendas preparam o café para a colheita cortando todo o mato. Nós mantemos a fazenda ‘suja’. Colhemos o café com a máquina e tiramos apenas a cobertura de ruas alternadas para colher os frutos que caem no chão. Nas outras, passamos um soprador, jogando para a rua trinchada. Colhemos todo o café e o solo permanece com muita matéria orgânica.” VALOR DIFERENCIADO Uma mudança tão significativa no modo de produção também trouxe resultados na comercialização do café. Cerca de 80% das 2.200 sacas do produto especial orgânico produzidas por ano na Três Meninas vão para exportação, com um preço de R$ 350 a R$ 400 superior ao do café convencional. A parte que fica no Brasil é vendida para torrefadoras de São Paulo. “Nosso objetivo era vender tudo no Brasil, mas o consumidor brasileiro ainda está aprendendo a consumir cafés especiais. No ano passado, fomos surpreendidos com a ação de uma cafeteria de Londres que vendeu nosso café com o nome da fazenda”, pontua o cafeicultor. O plano agora é expandir a produção orgânica, seja com a compra de área ou arrendamento. Mais para frente, a intenção é passar a gestão dos negócios para as filhas. “Trabalhamos uma sucessão familiar pelo exemplo”, diz Urtado, contando que a filha menor já produziu uma muda de guapuruvu (árvore nativa de grande porte e rápido crescimento) na escola e plantou na fazenda, que conta com dois funcionários fixos e mais seis na colheita. SIMPÓSIO Nos dias 5 e 6 de outubro, Urtado vai dividir com outros produtores e representantes da cadeia do café os detalhes da transição de sua fazenda no III Simpósio de Manejo Biológico de Café, em Franca (SP). Ele vai explicar que a produção é mecanizada, escalável, mas é necessário preparar o solo para a mudança e ter a assistência técnica de um agrônomo, além de buscar informações e visitar propriedades que já implantaram a técnica. “Sem informação, o produtor não deve se aventurar na mudança porque vai perder tempo e dinheiro.” A maior dificuldade na mudança, diz, é cultural. O cafeicultor precisa abrir a cabeça para o novo, começar por um pedaço de talhão, usar químicos e biológicos e ir aumentando a área até obter o equilíbrio desejado. Neste ano, Urtado assumiu a presidência do Consórcio Cerrado das Águas, uma plataforma colaborativa que conta com produtores, universidades e empresas exportadoras como Nespresso, Nestlé, Cofco e Cooxupé unidos para incentivar a produção de água nas fazendas de café. O Consórcio incentiva o plantio de árvores para enriquecer as nascentes, a adoção de ações conservativas nas áreas de café como o uso de plantas de cobertura. Segundo Urtado, as ações da plataforma já impactaram mais de 150 mil pessoas no Cerrado Mineiro.



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